Osmar Loss x Fábio Carille
Pegou todos de surpresa a "paralisação" do técnico Fábio Carille de "abastecer" o Corinthians com os seus trabalhos. É claro que apesar dos rumores não se esperava que em questão de dias o treinador bicampeão paulista e atual campeão brasileiro deixasse o Timão. Como consequência, também repentina, Osmar Loss assumiu a equipe. E na loucura do calendário brasileiro, dois jogos em quatro dias. Duas derrotas corintianas.
Não dá para traçar qualquer paralelo e relação dessas derrotas com Osmar Loss. Ele não teve tempo para treinar. Para colocar qualquer ideia em prática. Concedeu a entrevista coletiva de apresentação na quarta-feira, na quinta encarou o Millonários e no domingo pegou o Sport. É bem verdade que emocionalmente nunca é bom perder em estreias. Ainda mais duas derrotas assim na sequência. Mas cabe ao torcedor corintiano entender não só esse contexto de fatos inesperados, como também visualizar que o Corinthians sem Cássio, Fágner, Ralf, René Júnior e Clayson fica fragilizado. Independentemente do treinador.
Osmar Loss é muito prestigiado por todos que trabalham com categoria de base no Brasil. Seu currículo vencedor impõe respeito. Ele teve uma formação sólida no Internacional e vê o técnico Guto Ferreira como uma referência.
As equipes de Loss sempre foram fortes e organizadas defensivamente, procurando um ataque mais vertical e direto, mas principalmente com um futebol muito intenso e vibrante nos quatro momentos do jogo (ataque, defesa, transição defensiva e transição ofensiva). Se pegarmos a grosso modo, não foge muito das características do Corinthians campeão de Carille.
É claro que o ambiente do futebol profissional é bem diferente do da base. Loss precisa entender isso de uma maneira muito rápida e responder positivamente já no próximo jogo. E se a torcida e a diretoria corintiana derem tranquilidade, a adaptação dele será mais fácil.
Maneiras de vencer no futebol
Dizer que o futebol é complexo, imprevisível e que análises empíricas, que desprezam o viés sistêmico do jogo, estão ultrapassadas já é chover no molhado. Pelo menos eu há um bom tempo não considero mais o 'eu acho'. E quanto mais estudo para procurar respostas fundamentadas mais vejo que pouco sei sobre o jogo e mais tenho que estudar.
E caçando respostas - através de livros, seminários, conversas com os mais variados profissionais do futebol e observando diariamente jogos pelo mundo - sobre qual o jeito mais seguro e garantido de vencer não cheguei a conclusão alguma. Frustrante? Depende do ponto de vista.
A palavra 'depende' inclusive é a que vai nortear as respostas. E esse depende engloba muitas coisas. O comportamento de um time dentro de campo depende do seu tipo de gestão, sua arrecadação, seu poderio para contratar jogadores e staffs, sua história, a maneira como os grandes feitos foram alcançados, etc, etc e etc. Dá para enxergar claramente que Barcelona e Real Madrid tem maneiras diferentes de ganhar? Ou ainda entender que Manchester City e Leiscester tem maneiras diferentes de agradar o seu torcedor e que ambos podem ser vitoriosos, mas com jeitos diferentes?
É claro que estatisticamente se você tiver mais a posse de bola você vai finalizar mais e consequentemente ter chance de marcar mais gols e ser menos atacado. Porém um time com um orçamento menor, por exemplo, e jogadores mais aguerridos e menos técnicos pode chutar menos bolas no gol e mesmo assim sair vencedor. Não é só o ataque que é a melhor defesa. A melhor defesa também pode gerar um ataque mais eficiente.
Não quero entrar no mérito se é bonito ou não um time se defender o tempo todo, ter vinte por cento de posse de bola e ganhar a partida em um contra-ataque com uma sequência de três passos. O que fica claro para mim é que há inúmeras maneiras de ganhar no futebol. E que tudo vai depender do que você faz com o que tem em mãos. Os profissionais que responderem melhor ao ambiente em que eles estão devem ser os mais valorizados. Independentemente dos títulos que eles tenham conquistado. Afinal, tudo depende.
O equilíbrio para decidir no futebol
Ainda temos no Brasil o costume de achar que os melhores jogadores juntos vão formar o melhor time e alcançar os melhores resultados. Ou então para comparar a eficiência de duas equipes pegamos jogador a jogador por posição e tentamos ver qual é a melhor. Talvez isso funcionasse se o jogo não fosse complexo, caótico e dinâmico. Mas ele é tudo isso e mais um pouco.
Ter os melhores jogadores não garante absolutamente nada. É claro que se pegarmos o líder da Serie A do Campeonato Brasileiro e colocarmos diante do último colocado da Serie D a diferença técnica irá prevalecer. Porém em times de poderio parecido há outros aspectos que farão mais diferença do que a qualidade técnica individual.
É comum vermos jogos em que temos a impressão de que uma equipe tem quatorze jogadores em campo. Ou então outras que parecem ter nove - e não por ter alguém expulso e sim por conta das relações entre os integrantes da equipe que não estão ajustadas. Isso se dá também através da potencialização das individualidades que um jogo coletivo bem elaborado produz. Você pode, por exemplo, ter os quatro melhores atacantes do mundo jogando juntos. Porém se eles não auxiliarem na marcação em algum momento a habilidade ofensiva não será suficiente para a vitória. O todo sempre será maior que a soma das partes.
Não quero tirar aqui a magia dos craques. São eles que nos fazem amar o jogo. Mas o romantismo acabou. Não temos mais jogos que terminam 7 x 6. Hoje ganha quem erra menos e não quem acerta mais. Não defendo a robotização do jogo. E sim a ideia de que plano tático, estratégico e funções bem definidas com e sem a bola dentro de um time cada vez mais estarão sobrepostas ao talento individual. Nem o Real Madri da época dos Galáticos tinha onze jogadores em campo que eram os melhores das suas respectivas posições. No futebol atual o melhor time é o mais equilibrado.
* Marcel Capretz - É apresentador do SBT - Futebol Esporte Show e da rádio 105 FM. Já passou pela TV Gazeta, TV Bané d Campinas, Folha de São Paulo Online e LANCE! Jornalista formado pela Univerdade Mackenzie e pós-graduado pela Fundação Cásper Líbero, além de radialista profissional.